Resumo (N. T.)
O debate sobre se os vários aspectos do comportamento humano — por exemplo, instinto materno, cooperação, nepotismo, expressões faciais, senso moral e estético etc. — são inatos ou adquiridos pela experiência é antigo. Nos dias de hoje, como o assunto toca em sensibilidades políticas devido aos séculos passados terem sido particularmente ruins às mulheres, negros, judeus, aos pobres e homossexuais, é frequente que cientistas e intelectuais declarem a questão como resolvida mencionando que “é um pouco das duas coisas”. Na prática, argumenta o psicólogo cognitivo e evolucionista Steven Pinker, além de não explicar qualquer aspecto do comportamento, isso também dificulta que tenhamos progresso em entender como nossa natureza humana interage com as circunstâncias ambientais. Enquanto vários artigos ganham o público todos os anos alegando que está obsoleto separar biologia e cultura, a tese de Pinker continua sendo a pedra angular em mostrar não somente a permanência do problema frente à sua negação, mas que a própria negação pode ser sintoma de motivações não muito claras.
A considerar
O seguinte texto é a tradução de “Why Nature & Nurture Won’t Go Away”, da autoria de Steven Pinker. A seção de referências bibliográficas foi omitida para reduzir o tamanho da leitura. Porém, qualquer um pode conferi-la no artigo original. As ilustrações foram adicionadas pelo tradutor.
Quando, em 1581, Richard Mulcaster se referiu a “este tesouro […] concedido a eles por natureza, para serem pela natureza neles melhorados,” ele deu ao mundo um nome eufônico para uma oposição que vem sendo debatida desde então. As crenças das pessoas sobre a importância relativa da hereditariedade e do ambiente afetam suas opiniões sobre uma variedade surpreendente de tópicos. Os adolescentes se envolvem em violência por causa da maneira como seus pais os trataram no início da vida? As pessoas são inerentemente agressivas e egoístas, defendendo uma economia de mercado e uma polícia forte, ou poderiam tornar-se pacíficas e cooperativas, permitindo que o Estado murche e um socialismo espontâneo floresça? Existe uma estética universal que permita que a arte transcenda tempo e lugar, ou os gostos das pessoas são determinados por sua época e cultura? Com tanta coisa em jogo em tantos campos, não é surpresa que os debates sobre a natureza ou criação (“nature vs. nurture”), também conhecido por inato ou adquirido, evoquem mais rancor do que qualquer outra questão no mundo das ideias.
Durante grande parte do século passado, uma posição comum nesse debate foi negar que a natureza humana existisse (para José Ortega y Gasset, um dos maiores filósofos do século XX, o “homem não tem natureza, o que ele tem é história”). A doutrina de que a mente é uma lousa em branco não era apenas uma pedra angular do behaviorismo na psicologia e do construcionismo social nas ciências sociais, como também se estendia amplamente no mainstream da vida intelectual.[1]
Parte do apelo da teoria da tabula rasa, a lousa em branco, veio da constatação de que muitas diferenças entre pessoas de diferentes grupos e classes sociais, anteriormente pensadas como explicações para as disparidades inatas de talento ou temperamento, poderiam desaparecer através da imigração, mobilidade social e da mudança cultural. Mas outra parte de seu apelo era política e moral. Se nada na mente é inato, as diferenças entre raças, sexos e classes nunca poderiam ser inatas, tornando tábula rasa a salvaguarda definitiva contra o racismo, o sexismo e o preconceito de classe. Além disso, a doutrina descartou a possibilidade de que características ignóbeis como ganância, preconceito e agressão brotassem da natureza humana, o que manteve a esperança do progresso social ilimitado.
Na concepção de “tabula rasa”, o indivíduo é formado pelo que absorve de sua sociedade e cultura.
Embora a concepção de natureza humana tenha sido debatida por muito tempo, era inevitável que a discussão fosse transformada pela recente eflorescência das ciências da mente, cérebro, genes e evolução. O resultado foi que a doutrina da tabula rasa se mostrou insustentável.[2] É claro que ninguém pode negar a importância do aprendizado e da cultura em todos os aspectos da vida humana, mas a ciência cognitiva mostrou que, para começo de conversa, devem haver mecanismos inatos complexos para que a aprendizagem e a cultura sejam possíveis.
A psicologia evolucionista documentou centenas de universais que abrangem culturas de todo o mundo e mostrou que muitos traços psicológicos (como nosso gosto por alimentos gordurosos, status social e relações sexuais de risco) são mais bem adaptados às demandas evolutivas de um ambiente ancestral do que às demandas reais do ambiente atual. A psicologia do desenvolvimento mostrou que os bebês têm uma compreensão precoce de objetos, intenções, números, rostos, ferramentas e linguagem. A genética comportamental mostrou que o temperamento emerge cedo na vida e permanece bastante constante ao longo dela, que grande parte da variação entre pessoas de uma mesma cultura provém de diferenças nos genes e que, em alguns casos, genes específicos podem estar ligados a aspectos da cognição, linguagem e personalidade. A neurociência mostrou que o genoma contém um rico conjunto de ferramentas de fatores de crescimento, moléculas de orientação axonal e moléculas de adesão celular que ajudam a estruturar o cérebro durante o desenvolvimento, bem como mecanismos de plasticidade que tornam o aprendizado possível.
Essas descobertas não apenas mostraram que a organização inata do cérebro não pode ser ignorada, como também ajudaram a reformular nossa própria concepção de inato e adquirido.
Inato e adquirido, é claro, não são alternativas. O aprendizado em si precisa ser realizado por circuitos inatos, e o que é inato não é um conjunto de instruções rígidas para o comportamento, mas programas que captam informações dos sentidos e dão origem a novos pensamentos e ações. A linguagem é um caso paradigmático: embora idiomas específicos como japonês e iorubá não sejam inatos, a capacidade de adquirir esses idiomas é um talento exclusivamente humano. E uma vez adquirida, uma linguagem não é uma lista fixa de frases, mas um algoritmo combinatório que permite a expressão de um número infinito de novos pensamentos.
Além disso, como a mente é um sistema complexo composto por muitas partes que interagem, não faz sentido perguntar se seres humanos são egoístas ou generosos, desagradáveis ou nobres. Pelo contrário, eles são motivados por motivos concorrentes suscitados em diferentes circunstâncias. E se os genes afetam o comportamento, não é puxando os músculos diretamente, e sim através de seus intrincados efeitos na circuitaria de um cérebro em crescimento.
Finalmente, questões sobre o que as pessoas têm em comum devem ser separadas de questões sobre como raças, sexos ou indivíduos diferem inatamente. A biologia evolutiva dá razões para acreditar que existem universais sistemáticos em toda a espécie, maneiras circunscritas pelas quais os sexos diferem, variação quantitativa aleatória entre os indivíduos e pouca ou nenhuma diferença entre raças e grupos étnicos.[3]
Essa reformulação da natureza humana também oferece uma maneira racional de abordar os medos políticos e morais da própria natureza humana.[4] A igualdade política, por exemplo, não depende de um dogma de que as pessoas são inerentemente indistinguíveis, mas de um compromisso de tratá-las como indivíduos em esferas como a educação e o sistema de justiça criminal. O progresso social não exige que a mente esteja livre de motivos ignóbeis, apenas que ela tenha outros motivos (como a emoção da empatia e as faculdades cognitivas que se pode aprender com a história) que possam combatê-los.
Hoje em dia a maioria dos cientistas rejeita tanto a doutrina do século XIX de que a biologia explica tudo como a doutrina do século XX de que a mente é uma lousa em branco. Porém, ao mesmo tempo, muitos parecem desconfortáveis frente a qualquer tentativa de caracterizar a organização inata que a mente possui (mesmo a serviço de uma melhor compreensão da aprendizagem). Existe um desejo generalizado de que toda a questão simplesmente desapareça. Entre os cientistas contemporâneos, uma posição comum sobre o dilema inato ou adquirido pode ser resumida da seguinte forma:
Ninguém atualmente acredita que a mente é uma tabula rasa; refutar tal crença é atacar um espantalho. Todo comportamento é produto de uma interação inextricável entre hereditariedade e ambiente durante o desenvolvimento; logo, a resposta para todas as questões quanto ao inato e o adquirido é “um pouco das duas coisas”. Se as pessoas reconhecessem esse truísmo, as recriminações políticas poderiam ser evitadas. Além do mais, a biologia moderna tornou obsoleta a própria distinção entre inato e adquirido. Como um determinado conjunto de genes pode ter efeitos diferentes em ambientes diferentes, sempre pode haver um ambiente no qual um suposto efeito genético pode ser revertido ou cancelado; portanto, os genes não impõem restrições significativas ao comportamento. De fato, [se] os genes são expressos em resposta a sinais ambientais, então não faz sentido tentar distinguir genes e ambientes.
A atitude é frequentemente marcada por palavras como “interacionista”, “desenvolvimental”, “dialética”, “construtivista” e “epigenética”, e é normalmente acompanhada por um diagrama com os rótulos “genes”, “comportamento” e “ambiente pré-natal”, “ambiente bioquímico”, “ambiente familiar”, “ambiente escolar”, “ambiente cultural”, “ambiente socioeconômico” e setas apontando de todos os rótulos para todos os outros rótulos.
Essa doutrina, que chamarei de interacionismo holístico, tem um apelo considerável. Baseia-se em alguns pontos inesperados, como o de que inato e adquirido não são perspectivas mutuamente exclusivas, que os genes não podem causar o comportamento diretamente e que a direção da causalidade pode seguir os dois lados (por exemplo, a escola pode torná-lo mais inteligente e as pessoas inteligentes têm um maior grau de escolaridade). Possui um verniz de moderação, sofisticação conceitual e atualização biológica. E, como colocaram John Tooby e Leda Cosmides, promete “uma conduta segura em todo o campo da mina politizada da vida acadêmica moderna”.[5]
Mas as próprias coisas que tornam o interacionismo holístico tão atraente também devem nos deixar cautelosos. Não importa quão complexa seja uma interação, ela pode ser entendida apenas pela identificação de seus componentes e de como eles interagem. O interacionismo holístico pode atrapalhar esse entendimento, descartando qualquer tentativa de desmembrar a hereditariedade e o ambiente como uma atitude grosseira. Como Dan Dennett satirizou: “Certamente ‘todo mundo sabe’ que o debate inato ou adquiruido foi resolvido há muito tempo, mesmo que ao mesmo tempo nenhum dos lados vença porque tudo-é-uma-mistura-de-ambos-e é-tudo-muito-complicado, então vamos pensar em outra coisa, certo?”
A seguir, analisarei os princípios do interacionismo holístico e mostrarei que eles não são tão razoáveis ou tão óbvios quanto podem parecer.
“Ninguém acredita na posição extrema de que a mente é uma tabula rasa.”
Se isso é verdade entre os cientistas, está longe de ser verdade no resto da vida intelectual. O proeminente antropólogo Ashley Montagu, resumindo um entendimento comum às ciências sociais do século XX, escreveu em 1973 que “com exceção das reações instintóides de recém nascidos a súbitas retiradas de apoio e a ruídos altos repentinos, o ser humano é inteiramente desprovido de instinto. […] O homem é homem porque não tem instintos, pois tudo o que ele é e se tornou ele aprendeu, adquiriu, de sua cultura, da parte do ambiente feita pelo homem, de outros seres humanos.”[6]
O pós-modernismo e o construcionismo social, que dominam muitos setores das humanidades, afirmam vigorosamente que emoções humanas, categorias conceituais e padrões de comportamento (como os que caracterizam homens e mulheres ou homossexuais e heterossexuais) são construções sociais. Mesmo muitos humanistas que não são pós-modernistas insistem que a biologia não pode fornecer nenhum insight sobre a mente e do comportamento humanos. O crítico Louis Menand, por exemplo, escreveu recentemente que “todos os aspectos da vida têm exatamente a mesma base biológica, ou seja, a menos que fosse biologicamente possível, não existiriam”.[7]
A crença na tábula rasa também figura entre cientistas proeminentes. Richard Lewontin, Leon Kamin e Steven Rose, em um livro intitulado Not in Our Genes, afirmaram que “a única coisa sensata a ser dita sobre a natureza humana é que ‘está’ nessa natureza construir sua própria história”.[8] Stephen Jay Gould escreveu que “o cérebro é capaz de uma vasta gama de comportamentos e não é prediposto a nenhum”.[9] Anne Fausto-Sterling expressou uma visão recorrente da origem das diferenças sexuais: “O principal fato biológico é que meninos e meninas têm diferentes genitálias, e é essa diferença biológica que leva os adultos a interagirem de maneira diferente com bebês diferentes, a quem nós convenientemente colocamos o código de cores em rosa ou azul para tornar desnecessário procurar informações sobre o seu gênero em suas fraldas”.[10]
Essas opiniões se espalham por pesquisas acadêmicas e políticas públicas. Grande parte do consenso científico sobre parentalidade, por exemplo, baseia-se em estudos que encontram uma correlação entre o comportamento dos pais e o comportamento dos filhos. Pais que batem em seus filhos têm filhos mais violentos, pais autoritários (nem muito permissivos, nem muito punitivos) têm filhos bem comportados, pais que conversam mais com os filhos têm filhos com melhores habilidades de linguagem. Praticamente todos concluem que o comportamento dos pais causa os resultados na criança. A possibilidade de que as correlações possam surgir de genes compartilhados geralmente nem é mencionada, muito menos testada.[11]
Outros exemplos são abundantes. Muitas organizações científicas endossaram o slogan “a violência é um comportamento aprendido” e até mesmo cientistas de orientação biológica tendem a tratar a violência como um problema de saúde pública, argumentando que ela é fruto da desnutrição ou de doenças infecciosas. O que não se menciona é a possibilidade de que o uso estratégico da violência possa ter sido selecionado na evolução humana, bem como foi na evolução de outras espécies de primatas.[12]
Diferenças de gênero nas profissões, como a proporção de mulheres engenheiras mecânicas ser menos de 50% do que homens engenheiros mecânicos, são atribuídos inteiramente a preconceitos e barreiras ocultas. A possibilidade de que, em média, as mulheres possam estar menos interessadas do que os homens em atividades sem pessoas é igualmente indizível.[13]
A questão não é que sabemos que a evolução ou a genética são relevantes para explicar esses fenômenos, mas que mesmo a possibilidade de que a evolução ou a genética expliquem alguma parcela é frequentemente tratada como um tabu em vez de como uma hipótese testável.
“Para todo questionamento sobre se algo é inato ou adquirido, a resposta correta é ‘um pouco dos dois’.”
Não é verdade. Por que as pessoas na Inglaterra falam inglês e no Japão falam japonês? O “compromisso razoável” seria dizer que as pessoas na Inglaterra têm genes que facilitam o aprendizado do inglês e as pessoas no Japão têm genes que facilitam o aprendizado do japonês, mas que ambos os grupos devem ser expostos a um dos dois idiomas para de fato adquiri-lo. É claro que esse compromisso não é razoável, e sim falso, já que, independente de suas ascendências raciais, crianças expostas a um dado idioma o desenvolvem da mesma maneira. Embora as pessoas possam ser geneticamente predispostas a aprender um idioma, elas não são nem em parte geneticamente predispostas a aprender um idioma específico. A explicação do por que pessoas de diferentes países falam de maneira diferente é 100% ambiental.
Às vezes, o extremo oposto acaba sendo correto. Por exemplo, os psiquiatras costumavam culpar as mães pelas psicopatologias. A causa do autismo era de que devido as ‘mães de geladeira’ que não faziam com que seus filhos se desenvolvessem emocionalmente, enquanto que a esquizofrenia era vista como o resultado de mães que colocaram seus filhos em vínculos duplos. Hoje sabemos que o autismo e a esquizofrenia são altamente herdáveis e, embora não sejam completamente determinados por genes, os outros colaboradores plausíveis (como toxinas, patógenos e acidentes de desenvolvimento) não têm nada a ver com a maneira como os pais tratam seus filhos. As mães não merecem parte da culpa se seus filhos tiverem esses distúrbios, como implicaria o interacionismo holístico. Elas não merecem nada disso.
“Se as pessoas reconhecessem que todos os aspectos do comportamento envolvem uma combinação entre inato e adquirido, as disputas políticas evaporariam.”
Certamente muitos psicólogos lutam por um inócuo meio termo. Considere esta citação:
Se o leitor agora está convencido de que a explicação genética venceu, ou de que ambiental venceu, e que uma exclui a outra, então não fizemos um trabalho suficientemente bom em apresentar um lado ou outro. Parece-nos altamente provável que tanto os genes quanto o ambiente desempenham algum papel na questão.
Esse compromisso interacionista parece razoável a ponto de não incitar controvérsia. Mas, de fato, ele vem de um dos livros mais incendiários dos anos 90, The Bell Curve, de Murray e Herrnstein. Nessa passagem, os autores resumiram seu argumento de que a diferença nas médias de QI entre americanos negros e brancos têm causas genéticas e ambientais. A posição de que é “um pouco de cada” não os protegeu de acusações de racismo e comparações com nazistas. Evidentemente, também não a tornou verdadeira: como no caso do idioma que uma pessoa fala, a diferença média de QI entre negros e brancos poderia ser 100% ambiental. A questão é que, neste e em muitos outros domínios da psicologia, a possibilidade de que a hereditariedade tenha algum papel explicativo ainda é inflamatória.
“O efeito dos genes depende crucialmente do ambiente, então a hereditariedade não impõe restrições ao comportamento.”
Dois exemplos são comumente usados. Primeiro, diferentes linhagens de milho podem crescer a diferentes alturas quando igualmente irrigadas, mas uma planta da linhagem mais alta pode acabar mais curta se for privada de água. Segundo, crianças com fenilcetonúria (PKU), um distúrbio hereditário que resulta em retardamento mental, podem terminar normais se receberem uma dieta pobre em fenilalanina.
Há um aspecto dessa afirmação que vale a pena enfatizar. Os genes não determinam o comportamento como um pianista toca um piano. Intervenções ambientais — da educação e psicoterapia às mudanças históricas de atitudes e sistemas políticos — podem afetar significativamente os assuntos humanos. Também vale ressaltar que genes e ambientes podem interagir no sentido estatístico, a saber, que os efeitos de um podem ser expostos, multiplicados ou revertidos pelos efeitos do outro, em vez de haver apenas uma soma. Dois estudos recentes identificaram genes únicos associados respectivamente à violência e à depressão, mas também mostraram que seus efeitos se manifestam apenas em indivíduos que crescem sob experiências estressantes.[14]
Ao mesmo tempo, é enganoso invocar a dependência do ambiente para negar a importância de entender o efeito dos genes. Para começar, simplesmente não é verdade que qualquer gene pode ter qualquer efeito em qualquer ambiente, de maneira que pudéssemos projetar um ambiente para produzir qualquer resultado que valorizássemos. Embora alguns efeitos genéticos possam ser anulados em determinados ambientes, nem todos são: estudos que medem a similaridade genética e ambiental (como aqueles que incluem irmãos adotivos, onde as correlações com pais adotivos e biológicos podem ser comparadas) mostram inúmeros efeitos principais de personalidade, inteligência e comportamento em inúmeros traços de variação. E isso é verdade até mesmo para a criança portadora de PKU. Embora uma dieta pobre em fenilalanina impeça um retardo mental grave, ela não faz, como tem sido afirmado de modo ubíquo, que a pessoa seja “perfeitamente normal”. As crianças com PKU demonstraram possuir QIs médios nas décadas de 80 e 90, e são prejudicadas em tarefas que dependem da região pré-frontal do córtex cerebral.[15]
Além disso, a mera existência de um ambiente poder reverter os efeitos esperados dos genes é quase sem sentido. Só porque ambientes extremos podem atrapalhar uma característica, isso não significa que o intervalo comum de ambientes module essa característica, e nem que o ambiente possa explicar a natureza da característica. Embora os milharais não irrigados possam murchar, eles não crescerão indefinidamente se receberem quantidades cada vez maiores d’água. A dependência da água também não explica por que colhem-se espigas de milho em vez de tomates ou pinhas.
Na China, amarrar os pés é uma manipulação ambiental que pode afetar radicalmente a forma do pé, mas seria enganoso negar que a anatomia do pé humano seja significativamente influenciada pelos genes, ou atribuir o desenvolvimento da anatomia igualmente ao ambiente e à hereditariedade. A questão não é meramente retórica. O fato de os sistemas visuais dos gatos domésticos apresentarem anormalidades quando suas pálpebras são costuradas em um período crítico do desenvolvimento não implica (como se acreditava na década de 90) que tocar Mozart em bebês ou pendurar celulares coloridos em seus berços aumentará sua inteligência.[16]
Em suma, a existência de mitigações ambientais não anula o efeito dos genes. Pelo contrário, os genes especificam que tipos de manipulações ambientais terão que tipos de efeitos e sob quais custos. Isso é verdade em todos os níveis, desde a expressão dos próprios genes (como discutirei abaixo), até às tentativas em larga escala de mudança social. Os estados marxistas totalitários do século XX, por exemplo, conseguiram muitas vezes modificar o comportamento, mas às custas de uma coerção maciça e devido em parte a suposições equivocadas sobre a facilidade com que as motivações humanas reagem às mudanças circunstanciais.[17]
Por outro lado, muitos tipos de progresso social genuíno obtiveram sucesso envolvendo aspectos específicos da natureza humana. Peter Singer observa que os seres humanos normais em todas as sociedades manifestam um senso de simpatia: uma capacidade de tratar os interesses dos outros como comparáveis aos seus.[18] Infelizmente, o tamanho do círculo moral em que a simpatia se amplia é um parâmetro livre. Por regra, as pessoas simpatizam apenas com membros de sua própria família, clã ou vila e tratam qualquer pessoa fora deste círculo como menos que humana. Mas, sob certas circunstâncias, o círculo pode se expandir para outros clãs, tribos, raças ou até espécies.
Uma maneira importante de entender o progresso moral, então, é especificar os gatilhos que levam as pessoas a expandir ou contrair seus círculos morais. Singer argumentou que o círculo pode ser expandido para incluir pessoas a quem alguém está vinculado por redes de comércio e interdependência recíprocas,[19] e que pode ser retraído pela exclusão de pessoas vistas em circunstâncias degradantes.[20] Em cada caso, um entendimento dos aspectos não triviais da natureza humana revela possíveis alavancas rumo às mudanças sociais.
“Os genes são afetados por seus ambientes, e o aprendizado requer a expressão de genes; portanto, a distinção entre inato e adquirido não faz sentido.”
Certamente os genes não são ativos o tempo todo, mas eles são expressos e regulados por uma variedade de sinais. Esses sinais, por sua vez, podem ser desencadeados por uma variedades de estímulos, incluindo temperatura, hormônios, ambiente molecular e atividade neural.[21] Entre os efeitos ambientalmente sensíveis da expressão gênica estão aqueles que tornam o aprendizado possível. Habilidades e memórias são armazenadas na forma de mudanças físicas de sinapse, e essas mudanças requerem a expressão de genes em resposta a padrões de atividade neural.
Essas cadeias causais, no entanto, não tornam obsoleta a distinção entre inato e adquirido. O que elas fazem é nos forçar a repensar a equação causal da “inato” dos genes e a “adquirido” com tudo o que está além dos genes. Os biólogos notaram que a palavra “gene” acumulou vários significados durante o século XX,[22] o que inclui unidade de informação, uma especificação de uma parte, a causa de uma doença, um modelo para a síntese de proteínas, um gatilho desenvolvimental e um alvo da seleção natural.
É enganoso, então, equiparar o conceito pré-científico de natureza humana com “os genes”, como se a atividade gênica dependente do ambiente provasse que a natureza humana é indefinidamente modificável pela experiência. A natureza humana está relacionada aos genes em termos de unidade de hereditariedade, desenvolvimento e evolução, traços que exercem efeitos particularmente sistemáticos e duradouros na fiação e na química cerebral. Isso é distinto do uso mais comum do termo “gene” em biologia molecular, a saber, aquele que faz referência a trechos de DNA que codificam uma proteína.
Representação simplificada para o sentido molecular de “gene” ou “genético”.
Alguns aspectos da natureza humana podem ser especificados em carregadores de informação que não os genes, como o citoplasma, regiões não-codificantes do genoma que afetam a expressão gênica, propriedades gênicas não-sequenciais (como as que tratam do imprinting gênico) e aspectos intergeracionais que envolvem o modo em que o genoma sofre influência do ambiente materno, sendo moldado pela seleção natural. Reciprocamente, muitos genes direcionam a síntese proteica necessária para a função metabólica (como o reparo de feridas, a digestão e a formação das memórias) sem incorporar a noção tradicional de natureza humana.
Os vários significados para “ambiente” também precisam ser refinados. No debate inato ou adquirido, na prática, “ambiente” refere-se, na maioria das vezes, a aspectos do mundo que compõem a contribuição perceptiva individual sob a qual outros seres humanos mantêm controle. Isso inclui, por exemplo, as recompensas e as punições parentais, o enriquecimento precoce, papéis sociais, educação, leis, atitude e influência sociais e cultura. É contraproducente confundir “ambiente” no sentido psicológico com “ambiente” no sentido de meio extracelular, especialmente quando esse meio é constituído pelo produto de outros genes e, portanto, corresponde mais de perto à noção tradicional de hereditariedade. Ainda existem outros significados para “ambiente”, como a nutrição ou as toxinas dispostas pela ecologia local; o ponto não está em definir um dos significados como primário, mas sim em distinguir cada significado e caracterizar seus efeitos com precisão.
Uma razão final para os genes dependerem do ambiente não ser algo que invalide o conceito de natureza humana é o fato de que um ambiente pode afetar o organismo de maneiras muito diferentes. Alguns aspectos do ambiente perceptual são instrutivos no sentido de que seus efeitos são previsíveis pelas informações apresentadas pelos estímulos. Dado que, para começar, uma criança é um animal equipado para aprender palavras, o conteúdo do seu vocabulário é previsível a partir das palavras que ela ouve. E dado que um adulto é equipado para entender contingências, o local em que ele estacionará o carro dependerá do local onde os sinais PROIBIDO ESTACIONAR estiverem. Mas outros aspectos ambientais, a saber, aqueles que afetam diretamente os genes em vez de afetarem os sentidos ou o cérebro, desencadeiam contingências “se-então” geneticamente especificadas, estas que não preservam as informações no estímulo em si.
Tais contingências são difundidas durante o desenvolvimento biológico do indivíduo, onde muitos genes produzem fatores de transcrição e outras moléculas que desencadeiam cascatas de expressão gênica. Um bom exemplo é o gene Pax6, que produz uma proteína que desencadeia a expressão de outros dois mil e quinhentos genes, resultando na formação do olho. Respostas genéticas altamente específicas também podem ocorrer quando o organismo interage com seu ambiente social, por exemplo, quando uma mudança de status social em um ciclídeo masculino desencadeia a expressão de mais de cinquenta genes, que por sua vez alteram seu tamanho, agressividade e resposta ao estresse.[23]
Esses são lembretes de que a organização inata não pode ser equiparada à falta de sensibilidade ao ambiente, e que as respostas a esse mesmo ambiente geralmente não são especificadas pelo estímulo, mas pela natureza do organismo que interpreta esse estímulo.
“Enquadrar os problemas em termos pré-definidos nos impede de entender o desenvolvimento humano e de fazer novas descobertas.”
Pelo contrário. Algumas das descobertas mais provocativas da psicologia do século XX teriam sido impossíveis se não houvesse um esforço conjunto para separar inato e adquirido no desenvolvimento humano.
Por muito tempo os psicólogos procuraram a causa das diferenças individuais na capacidade cognitiva (através dos testes de QI, do desempenho escolar e profissional e dos índices de atividade cerebral) e na personalidade (pelos questionários, censos, avaliações psiquiátricas e registros de comportamento, como divórcio e crime). A sabedoria convencional tem sido a de que esses traços são fortemente influenciados pelas práticas parentais e pelos papéis sociais. Mas lembre-se de que essa crença se baseia em estudos correlacionais falhos que comparam pais e filhos, mas esquecem de controlar a influência genética.
Os geneticistas comportamentais corrigiram essas falhas com estudos sobre irmãos gêmeos e irmãos adotivos, descobrindo que, de fato, praticamente todos os traços comportamentais são parcialmente (embora nunca completamente) herdáveis.[24] Ou seja, parte da variação entre indivíduos dentro de uma cultura deve ser atribuída a diferenças em seus genes. A conclusão decorre de repetidas descobertas de que gêmeos idênticos criados separadamente (aqueles que compartilham os mesmos genes, mas não o mesmo ambiente familiar) são altamente semelhantes; que irmãos gêmeos criados sob o mesmo ambiente familiar são mais similares entre si do que irmãos fraternos (aqueles que compartilham o mesmo ambiente familiar, mas somente metade dos genes). Esses estudos foram replicados com amostragens de vários países, descartando as explicações alternativas mais comuns (como a que afirma que a semelhança dos gêmeos idênticos criados em lares diferentes se deve ao próprio lar ser semelhante).
Certamente, traços comportamentais concretos que dependem evidentemente do conteúdo fornecido pelo lar ou pela cultura — qual idioma se fala, qual religião se pratica, qual partido político se apoia — não são herdáveis. Mas os traços que refletem os talentos e temperamentos subjacentes — quão proficiente com a linguagem alguém é, quão religioso, quão liberal ou conservador — são parcialmente herdáveis. Portanto, os genes desempenham um papel em diferenciar as pessoas de seus vizinhos, e seus ambientes desempenham um papel igualmente importante.
Neste momento, é tentador concluir que as pessoas são moldadas tanto pelos genes quanto pela educação familiar. Mas a conclusão é injustificada. A genética comportamental permite-nos distinguir duas maneiras muito diferentes pelas quais os ambientes das pessoas podem afetá-las. O ambiente compartilhado é o que afeta uma pessoa e seus irmãos, como os pais, a vida doméstica e a vizinhança. O ambiente único é todo o resto, tudo o que acontece com uma pessoa que não necessariamente acontece com os seus irmãos.
Surpreendentemente, a maioria dos estudos sobre inteligência, personalidade e comportamento demonstra pouco ou nenhum efeito do ambiente compartilhado — muitas vezes para a surpresa dos pesquisadores, que pensavam que era óbvio que a variação não-genética tinha que vir da família.[25] Primeiro, irmãos adultos são igualmente correlacionados, quer tenham crescido juntos ou separados. Segundo, irmãos adotivos, quando testados como adultos, geralmente não são mais parecidos que duas pessoas da mesma cultura escolhidas aleatoriamente. E terceiro, gêmeos idênticos não são mais parecidos do que se esperaria visando seus genes compartilhados. Deixando de lado casos de extrema negligência ou abuso, quaisquer que sejam as experiências que os irmãos que cresceram no mesmo lar em determinada cultura compartilhem fazem pouca ou nenhuma diferença para o tipo de pessoa em que se transformam. É claro que habilidades específicas como ler ou tocar um instrumento musical podem ser transmitidas pelos pais, e obviamente os pais afetam a felicidade de seus filhos e a qualidade da vida da família como um todo. Mas eles não parecem determinar o intelecto, os gostos e as personalidades de seus filhos a longo prazo.
A descoberta de que o ambiente familiar compartilhado tem pouco ou nenhum efeito duradouro na personalidade e na inteligência é um choque para a sabedoria tradicional de que “pau que nasce torto nunca se endireita.” Põe em dúvida as formas de psicoterapia, que buscam no ambiente familiar as raízes dos transtornos mentais, as teorias que atribuem o alcoolismo, o tabagismo e a delinquência dos adolescentes a como eles foram tratados na primeira infância e a filosofia dos especialistas em paternidade que a atenção dos pais é a chave para uma criança com boa saúde mental.
Os resultados são tão contra intuitivos que se pode duvidar das conclusões, mas há corroboração por outros dados.[26] Filhos de imigrantes crescem com a linguagem, o sotaque e outros traços de seus pares, não de seus pais. As variações nas práticas de criação dos filhos — creche ou mães que ficam em casa, cuidadoras solteiras ou múltiplas, pais homossexuais ou heterossexuais — têm pouco efeito duradouro quando outras variáveis são controladas. A ordem de nascimento e o status de filho único também são coisas que mantêm pouco efeito sobre o comportamento fora de casa.[27] E um extenso estudo testou a possibilidade de as crianças serem moldadas por aspectos únicos de como os pais as tratam (em oposição aos pais tratarem todos os filhos da mesma forma) mostraram que as diferenças de criação dentro de uma mesma família são os efeitos, não as causas, das diferenças entre os filhos.[28]
A descoberta dos limites da influência familiar não é apenas um exercício de desmistificação, mas um novo olhar para novos questionamentos. A conclusão de que grande parte da variação na personalidade, inteligência e comportamento não provém dos genes e nem do ambiente familiar levanta uma importante questão sobre de onde ela vem. Judith Rich Harris argumentou que o fenômeno conhecido como socialização — o processo de adquirir as habilidades e os valores necessários para prosperar em uma determinada cultura — ocorre no grupo onde o indivíduo se encontra, e não em sua família. Embora as crianças não sejam dotadas de habilidades culturais, essas mesmas crianças também não são moldadas indiscriminadamente pelo ambiente. Um aspecto da natureza humana as direciona a descobrir o que é valorizado em seu grupo de iguais — o ambiente social em que eventualmente competirão por status e parceiros sexuais — em vez de renderem-se às tentativas de seus pais de moldá-las.
O reconhecimento desse aspecto, por sua vez, levanta questões sobre como ambientes relevantes, neste caso as culturas de pares, onde os grupos se encontram, surgem e se perpetuam. Uma cultura de pares se origina de uma cultura anterior ou de indivíduos ou grupos de alto status e depois prolifera-se em redes de parceria? Surge ao acaso de diferentes maneiras, algumas das quais se estabelecendo quando atingem um ponto de inflexão em popularidade?
Uma compreensão revisada de como os jovens socializam também possui implicações práticas. O alcoolismo e o tabagismo entre adolescentes podem ser aspectos melhor compreendidos como símbolos de status nos grupos de pares em vez de como uma falta de atenção dos pais para com os seus filhos (como insistem as propagandas atuais, patrocinados por empresas de cerveja e tabaco). Um determinante importante no sucesso escolar pode estar no fato das turmas se dividirem em grupos de pares com diferentes critérios de status, particularmente se o mesmo sucesso é tratado como admirável ou como algo a se envergonhar.[29]

Um grupo de pares (peer group). Foto por Kevin Iaminto.
O desenvolvimento da personalidade — as idiossincrasias emocionais e comportamentais de uma pessoa — apresenta um conjunto de quebra-cabeças distintos daqueles levantados pelo processo de socialização. Gêmeos idênticos que crescem sob o mesmo lar compartilham seus genes, seus pais, seus irmãos, seu grupo de pares e sua cultura. Embora sejam altamente semelhantes, estão longe de ser indistinguíveis: pela maioria das medidas, as correlações em seus traços comportamentais estão na faixa de 0,5.
A influência dos pares não pode explicar as diferenças, porque gêmeos idênticos compartilham em grande parte seus grupos de pares também. Em vez disso, a variação inexplicável de personalidade destaca os papéis do puro acaso durante o desenvolvimento: diferenças aleatórias no suprimento sanguíneo pré-natal, exposição a toxinas, patógenos, hormônios e anticorpos, diferenças aleatórias no crescimento, diferenças de adesão axonal, eventos aleatórios durante a experiência de vida, dentre outros. Explicações populares e científicas do comportamento, habitualmente invocando genes, pais e sociedade, raramente reconhecem o enorme papel que fatores imprevisíveis podem desempenhar no desenvolvimento individual.
Se o acaso explica a similaridade quase perfeita entre gêmeos idênticos durante o desenvolvimento, ele também destaca uma propriedade interessante do desenvolvimento como um todo. Pode-se imaginar um processo de desenvolvimento no qual milhões de pequenos eventos aleatórios se cancelam mutuamente, não deixando nenhuma diferença no organismo resultante. Pode-se imaginar um processo diferente, por outro lado, no qual um evento causal poderia atrapalhar completamente o desenvolvimento. Nada disso acontece com gêmeos idênticos. Suas diferenças são detectáveis nos testes psicológicos e na vida cotidiana, mas ambos são (geralmente) seres humanos saudáveis. O desenvolvimento de organismos deve usar complexos ciclos de retroalimentação em vez de modelos pré-especificados. Eventos aleatórios podem desviar as trajetórias de crescimento, mas as trajetórias são contidas em um envelope de desenhos funcionais para a espécie.
Profundas questões assim não se resumem em inato ou adquirido e sim em adquirido e adquirido: quais, precisamente, são as causas não-genéticas da personalidade e da inteligência. Os quebra-cabeças nunca teriam surgido se os pesquisadores não tivessem tentado determinar a influência do que é natural, mostrando que as correlações entre pais e filhos não podem ser atribuídas de maneira clara aos pais, mas podem ser atribuídas a genes compartilhados. Esse foi o primeiro passo que, em vez de simplesmente fazê-los supor que os pais eram todo-poderosos, levou os cientistas a medir empiricamente os possíveis efeitos parentais. O diagrama tudo-afeta-tudo acaba não sendo sofisticado, mas dogmático. As setas que saem de “pais”, “irmãos, e “lar” são hipóteses testáveis, não truísmos, e esses testes podem nos surpreender pelas setas que não deveriam estar lá, e por outras setas que podemos ter nos esquecido.
O cérebro humano já foi considerado o objeto mais complexo do universo conhecido. Sem dúvida, hipóteses que opõem inato e adquirido de maneira dicotômica, ou que correlacionam o comportamento aos genes ou ao ambiente sem olhar para o cérebro interveniente, serão, sim, simplistas ou erradas. Mas essa complexidade não significa que devemos misturar as coisas dizendo que é tudo complicado demais para ser considerado, ou que algumas hipóteses devem ser tratadas a priori como verdadeiras, como falsas, ou como perigosas demais para serem sequer mencionadas. Assim como a inflação, o câncer e o aquecimento global, o comportamento humano também nos desafia, e não temos escolha a não ser tentar desemaranhar suas múltiplas causas.[30]

Idealizador da E&S, é graduando em Ciências Biológicas (IB-UFRJ) e apaixonado pela relação entre comportamento e evolução.
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