De muitas maneiras, Josef Vissarionovich Djugashvili tinha as cartas contra ele. Ele era baixo (1,65 na altura total), tinha dedos de pombo, uma condição onde os dedos dos pés são apontados para dentro em vez de frente, e sindactilia, anormalidade embriológica que resulta na união entre dois ou mais dedos das mãos ou dos pés (seu segundo e terceiro dedos do pé esquerdo eram grudados). Além disso, ele tinha marcas de varíola (ele contraiu varíola aos 6 anos) e seu braço esquerdo era machucado (ele foi atropelado por uma carruagem faeton aos 12 anos). Sua mãe, Keké, lavava roupa e recebia pequenos favores de seus amantes; seu pai, Boso, um sapateiro, morreu bêbado. Ele era um marxista nato.
Djugashvili, também conhecido como Soso, Soselo, Beso, Koba, Petrov, Ivanovich, Koba Ivanovich, Besoshvili, Ivan Ivanovich Vissarionovich, Galiashvili, Simon Yvelaya, K. Kato, Gaios Besovich Nizheradze, Organez Totomiants, Zakhar Melikiliants, Vasily Chizhihiev, Vasily Vasya, Vaska, Oddvall Osip, Osip Koba, Pockmarked Oska, o Caucasiano, o Leiteiro, Geza, Kunkula, Chopura, David, o Sacerdote, Padre Koba, Giorgi Berdzenoshvili, e K. Solin, ele se tornou, em seu 34º ano, Josef Stalin: o Homem de Aço. Duas paixões transformaram Josef em Stalin. A primeira foi sua sede de sangue. A outra, a luxúria.
A sede de sangue era óbvia no início. Houve a pirataria do Tsarevich Giorgi, o assalto a um navio a vapor de 2.200 toneladas que arrecadou 16.000 rublos em 1906 para a revolução; houve o assalto a um banco em Tíflis um ano depois, que rendeu 241.000 rublos e deixou 40 georgianos massacrados; havia esquemas de proteção em Baku, onde os magnatas do petróleo pagavam para evitar acidentes; os filhos dos oligarcas foram sequestrados: os bolcheviques foram financiados com resgates e sangue.
Orgias seguiram os assaltos. Stalin teve um flerte precoce com a filha do padre Charkviani, seu padre do seminário; ele saiu com Lisa Akopova, outra georgiana de Gori; a mãe de Pasha Mikhailovskaya, sua provável filha ilegítima, que enviou-lhe uma carta; ele conviveu com Natasha Kirtava, uma social-democrata abandonada pelo marido; ele recebeu dicas de extorsão de Marie Arensberg, esposa de um comerciante alemão; ele se casou com a irmã de um bolchevique, Kato Svanidze — que morreu abandonada de tifo um ano depois e deixou seu filho Yakov para ser criado por suas próprias irmãs; ele saiu com Alvasi Talakvadze, de 18 anos, depois do assalto ao banco de Tiflis.
Ele teve um relacionamento intermitente com Ludmilla Stal, uma ativista da Ucrânia; ele teve um relacionamento com Tatiana Sukhova, exilada em Solvychegodsk; ele propôs a Stefania Petrovskaya, a nobre de Odessa; ele coabitou com Serafima Khoroshenina; ele abandonou uma jovem grávida em Vologda, Maria Kurzakova; ele teve um ménage à trois com “Glamourpuss”, de 16 anos, estudante do ensino médio; ele se deitou com a divorciada Maria Bogoslovskaya, e com Sophia Kryukova, sua empregada de 16 anos; ele namorou a “querida” Tatiana Slavatinskaya, quando começou a trabalhar no Pravda; ele foi contrabandeado para fora de Petersburgo por Valentina Lobova, esposa de outro camarada.
Stalin também seduziu Lidia Pereprygin, de 13 anos, a órfã do Círculo Polar Ártico que lhe deu dois filhos, mas foi deixada sozinha; ele foi morar com Vera Shveitzer, que foi para Petrogrado com ele; ele atirou na namorada de Vyacheslav Molotov, Marusya; ele seduziu Olga Fedotenko, esposa de seu camarada Sergei Alliluyev; e Zhenya Alliluyeva, uma das filhas de Olga; e Nadya Alliluyeva, de 16 anos, outra filha de Olga e última esposa de Stalin — que, no aniversário da Revolução, em novembro de 1932, deu um tiro no peito.
Depois da Revolução, as tragédias de mortes individuais se transformaram em estatísticas mais secas e anônimas. Milhares de “inimigos dos trabalhadores” foram deportados ou executados. Poetas e paleontólogos, pianistas e botânicos foram purificados. Funcionários do partido, liderança do Exército Vermelho e etnias foram todos erradicados. Para financiar a industrialização da Rússia, houve fomes generalizadas. Ao todo, 20 milhões de pessoas morreram.
A revolução foi seguida por casos mais românticos, mas também anônimos. Stalin flertou com camaradas e esposas de camaradas. A correspondência de fãs enche os arquivos: “Estou anexando minha fotografia”, groupies de todos os lugares escreveram para ele; “Eu vi você em meus sonhos”. Quer ele as quisesse ou não, os oficiais do Kremlin procuravam mulheres. Até seu guarda-costas, Vlasik, admitiu que Stalin não resistiu a todas aquelas garotas. “Afinal, ele era um homem.”
Por séculos, Júlio César e seus sucessores governaram um Império Mediterrâneo. O sucessor de César, Augusto, que foi o primeiro imperador romano, também contratou mulheres para ele. Marco Antônio lembrou em uma carta como seus amigos o ajudaram: “Eles tiravam as roupas das mães das famílias, ou das meninas adultas, e as inspecionavam como se estivessem à venda”. Até Lívia Drusila, a terceira esposa do imperador, fez vista grossa para seus negócios por 52 anos. “A acusação de ser um mulherengo ficou presa e, como um homem idoso, diz-se que ainda nutria uma paixão por iniciar meninas, que eram coletadas para ele em todos os quadrantes, até mesmo por sua esposa.”
Durante séculos depois disso, Carlos Magno, o Grande, e seus sucessores tornaram-se Kaisers e governaram impérios por toda a Europa. Eles tinham seu caminho com as esposas e filhas de seus nobres. Eles colecionavam gadalibus, ou trollops, e meretricibus, ou prostitutas. “Eles mergulharam na lama de porcos”, escreveram abades suspeitos; “Os devassos foram reunidos, os canalhas foram apresentados”. Os monges do Reichenau os imaginaram no inferno, com animais selvagens rasgando seus órgãos genitais.
Então, na Rússia, os césares se tornaram czares. E Stalin se tornou o Czar Vermelho. “Um verdadeiro bolchevique não deve ter uma família porque deve se entregar totalmente ao Partido”. Como tantos outros socialistas, ele ofereceu ácido desoxirribonucléico — DNA. E deixou o coletivo fazer o resto.
Nota do tradutor: A citação das anomalias congênitas que Josef Stalin tinha é significativa pois pode ser um importante marcador de injúria ao desenvolvimento neural fetal no final do primeiro trimestre de gestação. Assim, na literatura científica sobre neurodesenvolvimento, elas são vistas como indícios indiretos de interferências no desenvolvimento normal do cérebro e distúrbios comportamentais associados.
Traduzido e adaptado de Sex in the USSR, escrito originalmente pela historiadora evolucionista Laura Betzig em publicado em Psychology Today.

É biólogo, estudante de engenharia de computação e vinculado a um grupo de pesquisa em neurociência computacional na Universidade Federal do ABC. Ele tem interesses em promover a nanotecnologia molecular e a futura nanorobótica.
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Vitor
Gosto muito dos textos desse site, mas esse realmente pisou na bola.
Primeiramente, qualquer figura histórica é condenável. Com certeza Stalin cometeu erros e devemos fazer críticas e aprender com esses erros, assim como devemos fazê-lo com seus acertos. O texto basicamente afirma duas coisas: (I) Stalin possuía uma péssima conduta moral em relação ao matrimônio; (II) Stalin possuía uma inclinação natural (congênita ou adiquiridade) ao mal.
Pela própria enumeração já fica clara a fragilidade de tais afirmações. A primeira eu confesso que, caso seja verdade todos os casos descritos, cabem sim críticas a esse respeito, mas não entendo o que isso enterferiria na figura de Stalin enquanto líder e seu legado político. O segunda caso já é mais direto, porém carece totalmente de fundamentos. Nenhum historiador sério defende a narrativa do holodomor como uma ação deliberada de Staliin, e uma grande maioría defende que se quer tenha existido tal acontecimento. O discurso de endemonizar Stalin chega a ser fabuloso e ter caráter lúdico e literário, não condizendo com uma descrição não-ficcional e científica. São diversas as referências que contrampõem a narrativa anti-stalinist que no geral são fomentadas por capitalista que ganham com enfraquecimento de um dos maiores líderes políticos que lutou pelo povo oprimido.